MÚSICAS INESQUECÍVEIS

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

GENTILEZA



"Três coisas agradam a todo o mundo: gentileza, frugalidade e humildade. Pois os gentis podem ser corajosos, os frugais podem ser liberais e os humildes podem ser condutores de homens".
Textos Taoístas

 

Segundo o livro A arte da gentileza, de Piero Ferruci (ed. Alegro), pesquisas científicas confirmam que pessoas gentis são mais saudáveis e vivem mais, são mais amadas e produtivas, têm mais sucesso nos negócios e são mais felizes. ''Ser gentil nos faz tão bem quanto ser alvo de uma gentileza'', garante o autor. Por outro lado, a não-gentileza gera sentimentos negativos, atrapalha as relações e pode até deixar a pessoa doente, já que quando alguém é alvo de grosseria, falta de educação, o sistema nervoso reage liberando hormônios como a adrenalina, que desequilibram o organismo. Até a musculatura é afetada e reage à falta de gentileza se contraindo, deixando o corpo cada vez mais tenso.

''A falta de gentileza, caracterizada por um ambiente de grosseria e violência, se constitui em um fator estressor que leva o indivíduo ao desenvolvimento do estresse crônico. Por conseqüência, a qualidade de vida acaba sendo afetada, incluindo a saúde'', confirma a psicóloga Lucia Novaes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress.

O que a ciência agora comprova vai ao encontro do que o profeta Gentileza passou grande parte da vida pregando e escrevendo nos 55 murais que criou sob o viaduto do Gasômetro, próximo à Rodoviária Novo Rio. Sua mensagem podia ser resumida na frase-síntese ''gentileza gera gentileza''.



Os murais, restaurados pelo projeto Rio com Gentileza, coordenado pelo filósofo Leonardo Guelman, hoje se encontram de novo danificados por pichações logo abaixo das inscrições do profeta. Mais ou menos como a própria gentileza, tão fora de moda nos dias que correm.

''O Gentileza denunciava uma crise ética, de valores. Segundo ele, tudo passa pelo favor. O simples fato de pedirmos 'por favor' e agradecer com um 'obrigado' denotava que adotamos a troca na base do toma-lá-dá-cá, típico do mundo individualista, produto do capitalismo que ele batizou de 'capeta capital''', afirma Guelman, autor do livro Brasil, tempo de gentileza (Eduff), sobre o profeta que morreu aos 79 anos, em 1996.

Para o profeta, ficamos cegos e surdos e perdemos a capacidade de ver e ouvir o outro. Segundo a psicoterapeuta e educadora Sandra Celano, o pronome nós, nesse mundo tão individualista, agrega no máximo o núcleo familiar. ''Então, como esperar que um seja gentil com o outro em pequenas ações cotidianas, se as pessoas não conseguem nem perceber o outro?'', questiona. Até em uma discussão é possível manter a gentileza. ''Basta prestar atenção ao que a outra pessoa diz e se expressar considerando suas razões e seu ponto de vista'', completa Sandra, que observa em seu consultório o crescimento da falta de gentileza como uma das queixas comuns de seus pacientes.


Algo bastante urgente de ser lembrado nos dias de hoje. Pois se gentileza gera gentileza, a sua falta só pode produzir uma carência ainda maior, daí o cenário aterrador de um mundo de rispidez e impaciência, e seus assustadores índices de violência - não como causa única, evidentemente.

''A falta de gentileza e a hostilidade nas relações podem contribuir para um mundo estressante, na medida em que essas atitudes são contagiosas. Violência gera violência, hostilidade gera hostilidade, raiva gera raiva'', acredita a psicóloga Lúcia Novaes. Por outro lado, diz ela, o mundo estressado, com tantas demandas, com a necessidade de se fazer cada vez mais coisas em menos tempo e mais perfeitas abre espaço para atitudes agressivas, raivosas e hostis. ''É um círculo vicioso.''



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